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Um cadáver (Pedido)
Quando eu morrer, não me velem entre flores mortas, muito menos entre flores vivas. Não insultem a fragrância da primavera com a indelicadeza plástica do irreversivel ato da dissolução. ( Não maculem as flores com a minha presença. Não ofendam os olhares à minha palidêz ). O Cadáver tem um cheiro peculiar - Passivo e mórbido - Quase todos soltam gases, mesmo em plena liturgia. Uma maneira discreta de afastar a indesejável presença dos vivos. Não gosta de ser observado. Se pudesse falar, expulsaria a todos da sala. O velório é um ato de sadismo! Não exponham uma vida anárquica e repleta de movimentos, olhares indagadores, gritos, suspiros, lágrimas, à passividade das coisas mortas. A minha anarquia não quer ser humilhada pela unanimidade de velas e castiçais. Perdoem pelo meu verbo angustiado. Exijo respeito com as minhas ruínas! Transformem esta matéria frágil, solúvel, que me serviu com alegria e zêlo, em cinzas, carbono, minerais, e devolvam ao mar!
Jose Balbino de Oliveira
Enviado por Jose Balbino de Oliveira em 07/09/2012
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